postado em 14/09/2020 22:02 / atualizado em 14/09/2020 22:04
(crédito: AFP)
Um filho de agricultor de morangos está prestes a se tornar primeiro-ministro do Japão. Yoshihide Suga, secretário-geral do governo e conselheiro de Shinzo Abe, deverá ter o nome confirmado, amanhã, pelo Parlamento. O sucessor de Shinzo Abe, que renunciou por motivos de saúde, venceu as eleições pela liderança do Partido Liberal Democrata (PLD). Suga, 71 anos, obteve 377 votos, contra 89 para o ex-chanceler Fumio Kishida e 68 para Shigeru Ishiba, ex-ministro da Defesa. Por ter a maioria no Parlamento, o PLD provavelmente não terá dificuldades em alçá-lo ao posto máximo do país. Suga cumprirá o mandato remanescente de Abe até, 30 de setembro de 2021, e precisará enfrentar outra eleição para o posto de líder do PLD. “Com esta crise nacional do coronavírus, não podemos nos permitir um vazio político”, declarou Suga, ao acenar para o continuísmo das políticas de Abe.
O primeiro-ministro demissionário externou “apoio total” a Suga e lembrou que o potencial sucessor “trabalhou de modo duro e discreto pela nação e pelo povo”. “Vamos construir um Japão que brilhe e supere a crise do coronavírus com Suga como líder”, declarou Abe, que se afastou por causa de uma doença crônica do intestino.
A missão de Yoshihide Suga à frente do Japão será repleta de desafios. Segundo a agência de notícias France-Presse, a política econômica do atual premiê, chamada de “Abenomics”, foi prejudicada pela recessão e pela pandemia da covid-19. Suga precisará lidar com a ameaça representada pela afirmação da China como superpotência e estruturar o país para a realização das Olimpíadas, adiadas para o próximo ano, por causa da disseminação do coronavírus.
Yuko Nakano — subdiretora do Programa de Liderança Estratégica EUA-Japão do Centro para Estudos Internacionais e Estratégicos (CSIS, em Washington) — afirmou ao Correio que, tão logo Shinzo Abe anunciou a intenção de renunciar, pesquisas revelaram que a popularidade do premiê saltou de 10 pontos percentuais para mais de 50 pontos. “É raro ver tal evolução na popularidade de um primeiro-ministro demissionário. Isso indica que a maioria dos japoneses avaliza muitas das iniciativas promovidas por Abe”, explicou. “O senhor Suga, que serviu como porta-voz de Abe pelos últimos sete anos e meio, na condição de secretário da chefia de gabinete, foi mais alinhado ao chefe de governo do que os outros dois candidatos que disputaram a corrida pela liderança do PDL. Suga tem profunda experiência em lidar com grandes decisões, incluindo a resposta à crise causada pela covid-19”, acrescentou.
Prioridades
Para Nakano, como o Japão continua a enfrentar a pandemia, o momento é inoportuno para uma grande mudança na direção da política. “Parece-me que os cidadãos japoneses desejam ver uma continuação das atuais políticas. Suga é visto como administrador competente do governo”, disse. A especialista entende que o combate à covid-19 e a revitalização da economia serão as prioridades de Suga a curto prazo. “Ele tem suas próprias iniciativas, como programas de revitalização econômica locais, reforma regulatória e a criação de uma ‘agência digital’ para supervisionar a digitalização de procedimentos administrativos. Mas o quão bem ele poderá assumir a liderança nessas iniciativas dependerá de como a pandemia tende a se desenvolver.”
A estudiosa do CSIS também prevê como desafiadores a velocidade e a firmeza com que o próximo primeiro-ministro consoliderá o poder. “Como as disputas internas do partido mostraram, Yoshihide Suga acumula apoio entre os colegas. Ele é conhecido da opinião pública japonesa como porta-voz do governo Abe, mas não como premiê. Vamos acompanhar como os cidadãos respondem a esse estilo de liderança nas próximas semanas”, comentou. Nakano lembrou que as eleições para a Câmara dos Deputados são um item do calendário político que merece atenção, com Suga no poder. “Se o PDL vencer as eleições gerais, isso representará um referendo de seu governo, o que poderia levá-lo a um longo ‘reinado’ como primeiro-ministro. A antecipação do pleito dependerá de como a pandemia esvair-se-á e se os números das pesquisas indicarem apoio ao chefe de governo e ao seu partido no poder.”
» Eu acho…
“A expectativa é de que o senhor Yoshihide Suga continue as principais iniciativas políticas lideradas por Shinzo Abe, incluindo o fortalecimento da aliança EUA-Japão, a promoção da Estratégia Aberta e Livre do Indo-Pacífico e a revitalização do crescimento da economia japonesa. Ao ser eleito presidente do PLD, Suga declarou que continuaria a consultar o antecessor em temas sobre política externa.”
Yuko Nakano, subdiretora do Programa de Liderança Estratégica EUA-Japão
do Centro para Estudos Internacionais e Estratégicos (CSIS, em Washington)
» Personagem da notícia
Exemplo de
superação
O provável novo primeiro-ministro do Japão é a definição de superação. Filho de um agricultor de morangos e de uma professora da região de Akita (norte), Yoshihide Suga pagou os estudos com trabalhos esporádicos em uma fábrica de papelão ou em um mercado de peixes da capital. Formou-se em direito e ingressou na vida pública como assistente parlamentar de um político de Yokohama. Aos 28 anos, foi eleito membro do conselho municipal desta cidade, a 27km de Tóquio. Em 1996, conquistou uma cadeira como deputado por Yokohama, vaga que ainda ocupa.
Considerado impenetrável, Suga encarna a experiência, o pragmatismo e a continuidade política. Por isso, há muito tempo este político veterano, de 71 anos, era considerado potencial sucessor de Shinzo Abe. Ainda assim, sempre negou ter ambições de chegar ao posto de premiê, mas apresentou a candidatura quando Abe anunciou, em agosto, que abandonaria o cargo por motivos de saúde.
Durante anos, Suga trabalhou ao lado de Abe, de quem foi um conselheiro fiel. Teve papel decisivo no retorno dele ao poder em 2012, depois do fracasso de seu primeiro mandato como chefe de governo entre 2006 e 2007. Abe recompensou-o com a nomeação ao posto de secretário-geral do governo. Suga assumiu o papel de coordenador de políticas entre os ministérios e as agências estatais, o que rendeu a reputação de bom estrategista.
Casado e pai de três filhos, Suga mantém discrição sobre a vida privada. A imprensa do Japão divulgou que ele tem a pescaria e a caminhada como hobbies e que não bebe álcool. Sua imagem pública ganhou força em 2019 quando anunciou o nome da nova era imperial do Japão para todo o país. Desde então, é chamado por muitas pessoas de “tio Reiwa”.
Fonte: www.correiobraziliense.com.br